Gestão e sustentabilidade
Será
que Peter Drucker tem algo a dizer a respeito de política e economia ambiental?
Penso que sim, mas o leitor há de
julgar...
Recentemente
postei uma frase de Peter Drucker num site dedicado à sustentabilidade: “os cantores populares não solucionarão a
crise ambiental; eles nem conseguiriam construir uma estação de esgoto”1.
Surpreso
com a quantidade de comentários, fiquei
motivado a escrever este artigo. Assim, espero atender aos leitores que
desejavam mais informações sobre o que Drucker pensava da questão da
sustentabilidade. E, de quebra, aproveito para homenagear um grande mestre.
Drucker
apresentava-se com um escritor e professor e, não raramente, como um ecologista
social2. Eu o vejo, acima de tudo, como um estudioso dedicado a investigar
como os seres humanos se organizam e interagem para resolver problemas práticos
ligados à sobrevivência, prosperidade, produtividade, governabilidade,
sustentabilidade, ao desempenho organizacional e humano, eficácia gerencial,
auto realização, ética e qualidade de vida.
Enfim, um
homem focado em resultados e nos meios eficientes para alcançá-los.
E foi na
condição de um estudioso militante que em 1971 ele proferiu uma palestra sobre
meio ambiente. Na época, o tema não era tão prestigiado. Pelo contrário. Lembro
ter visto (se não me equivoco) na revista Visão um encarte do governo do estado
do Mato Grosso que convocava os empresários a investirem no Estado. Pelo lead da matéria em caixa alta
percebeu-se que o principal argumento era: “Aqui Não Temos Medo de Poluição”!
Em sua
palestra, Drucker contou que se considerava um ambientalista de longa data.
Como evidência, mencionou que ministrara um curso sobre meio-ambiente numa
pequena Universidade para mulheres em Vermont em 1947 (ou 48). Na época, a ideia
de preservação ambiental era estranha e “desenfreadamente reacionária”3.
Hoje, a
questão ambiental está na boca do povo e é licito indagar o que Drucker pode
nos ensinar que já não saibamos. Afinal, o curso que ele lecionou ocorreu 65 anos atrás e a palestra, na qual se
baseia este artigo, há 41 anos.
Minha
experiência como leitor de Peter Drucker é que mais que divulgar novos
conceitos ou conhecimentos específicos, ele, acima de tudo, nos ensina a pensar
com clareza e objetividade.
Portanto,
convido o leitor a refletir sobre pontos defendidos por Drucker na palestra.
Primeiro.
Antes de enrouquecer exigindo mais verbas públicas e privadas para a causa
ambiental, considere se o problema não está mais embaixo, ou seja, na
incompetência de gerenciar as políticas e ações ambientais.
Como em
muitos empreendimentos humanos, o orçamento tende a ser superior às realizações
apresentadas. “O dinheiro não substitui a reflexão; na verdade substituir a
reflexão por dinheiro é sempre prejudicial”4.
Ao ler
essa passagem percebi a atualidade da observação para a nossa realidade. Não há
um bendito dia em que questões relativas à saúde, educação e segurança não
sejam exaustivamente discutidas em termos de mais verbas, mais financiamento,
mais recursos, mais gastos. Objetivos, prioridades, métodos de gestão,
competência, responsabilidades, responsabilização e resultados são ignorados
pelo pensamento mágico de que mais dinheiro operará, da noite para o dia, um
milagre sem precedentes.
A
instituição escolar é ineficiente? Pague melhores salários aos professores e
eles darão melhores aulas! Você acredita que é simples assim? Drucker, com
certeza, não. Ele não via uma relação inexorável entre a quantidade de dinheiro
gasto em uma causa ou empreendimento e a qualidade dos resultados obtidos. A verdade é que governos, organizações e
indivíduos ineptos com dinheiro continuarão ineptos.
Em outras
palavras, não há dinheiro no mundo capaz de driblar a incompetência gerencial,
objetivos irrealistas e não mensuráveis, falta de foco, planos e execução
deficientes, corrupção, demagogia etc.
Segundo.
Drucker também apontou que os ambientalistas mais ruidosos dão a impressão que
podemos viver em um universo sem risco. É impossível! Mais ainda em questão
complexas como a sustentabilidade.
Em alguns
trabalhos de coaching que
conduzo, recomendo ao orientado que
esqueça a ideia de vencer por 10 x 0.
O importante é manter um saldo de gols favorável e que esse é o tipo de risco
que vale a pena correr.
O risco
existe e deve ser gerenciado, por isso, Drucker enfatiza que devemos dedicar
mais tempo para discutir e chegar a um acordo sobre quais riscos estamos
dispostos a correr, quais riscos não são permissíveis e qual o preço que
podemos pagar para usufruir de qual nível de segurança ambiental.
Ele
adverte que “Quando criarem um imposto sobre o ar e tivermos que pagar por ele,
tudo ficará mais caro. Quando aumentarem as tarifas que recaem sobre o consumo
de água, eletricidade, transporte individual e coletivo, coleta de lixo etc., o
custo de vida aumentará e a conta será paga por todos; e sempre são os pobres
os que mais sofrem quando as coisas ficam mais caras”5.
Pergunto:
onde está o líder, o dirigente ou o
político que comparecerá à praça pública para esclarecer que os contribuintes
arcarão com a conta da sustentabilidade, que a sociedade terá que decidir o grau desejado de proteção ao meio ambiente
e até que ponto deseja manter o atual estilo de vida baseado no consumo
massivo?
Drucker
não ignorava que os recursos econômicos e materiais são, por definição,
escassos. Porém, nas linhas e entrelinhas de sua vasta obra ele ataca
sistematicamente a incompetência,
aparentemente, um “recurso” abundante.
Com todo
respeito, acrescentaria que a falta de coragem para dizer as duras verdades que
o eleitor, o contribuinte, os superiores e subordinados preferem não ouvir é outra praga que dificulta a resolução dos
nossos problemas.
Terceiro.
Drucker afirma que o meio ambiente
talvez seja o maior desafio dos nossos tempos e que qualquer solução resultará
da aplicação do melhor da ciência e da tecnologia. Nessa guerra precisamos de
um choque de gestão, da participação de
cientistas, engenheiros, empreendedores, empresários, artistas e cidadãos.
Particularmente,
eu acredito que um mundo pautado pela
razão e pelo conhecimento atende melhor aos interesses humanos que um mundo
entregue às paixões, opiniões não fundamentadas e desejos tresloucados. Receio
eventos sobre o meio-ambiente dominados por indivíduos e grupos
alternativos que destilam ódio e cujo comportamento agressivo afugenta
capitalistas, administradores profissionais, cientistas, engenheiros e
tecnólogos.
Certamente
Drucker concordaria que o engajamento dos artistas é importante. Contudo, não
devemos esquecer que a área de excelência que os tornou populares passa longe
da condição de especialistas em crescimento sustentável.
No
encerramento da palestra, Drucker convida os ouvintes a preocuparem-se com o como fazer e não com o que dizer. Nas suas palavras, é hora
de juntar quem está preocupado com o meio ambiente com quem está capacitado a
resolver o problema e não apenas entusiasmado com a empolgação gerada pelo
movimento ecológico.
- “Não é
possível sustentar a empolgação sem RESULTADOS.”
Por Eugen Pfister
Notas
1.
Wartzman, Rick, Drucker
em 33 Lições: As Melhores Aulas do Homem que Inventou a Administração, Edição e
introdução de Rick diretor-executivo do Instituto Drucker, São Paulo, Editora
Saraiva, 2011, pg.69.
2.
The New York Times, a Pioneer in Social and Management Theory, Is
Dead at 95. By Barnaby J. Fedder,
12/11/2005. (http://www.nytimes.com/2005/11/12/business/12drucker.html?pagewanted=all)
3. Wartzman, página
69, obra citada
4. Wartzman, página,
70, obra citada.
5. artzman, 74,
obra citada.