Por Eugen Pfister
Em carta ao jovem Lucílio, Sêneca (4 a.C – 65 d.C) faz uma digressão sobre a melhor forma de escolher um amigo. Ele critica o mau costume de conceder a amizade e depois avaliar se a pessoa é merecedora da nossa confiança. 2
“Invertemos a ordem”, registra Sêneca. Pergunto:
quantas vezes não agimos assim? O correto seria a amizade baseada no convívio e
não na empolgação causada pelo amor à primeira vista.
Relendo essa passagem pensei na prática organizacional de promover pessoas, depois treiná-las e, finalmente, alguns meses após aferir se acertamos na escolha.
Não é a toa que nos últimos trinta anos continuo ouvindo o mesmo lamento: “perdemos um excelente
técnico (vendedor, analista, pesquisador etc.) e ganhamos em troca um péssimo
gerente”.
Lembram
o conselho
de Sêneca? Então, treine, observe e,
depois, se for o caso, promova.
As ferramentas básicas da “prova do líder” são a
delegação, o empowerment, a liderança transitória em projetos e situações em
que as qualidades de liderança são requeridas. Testes psicológicos, atividades
de assessment e a avaliação 360º oferecem pistas interessantes, mas recomendo
que as informações sejam cruzadas com as observações do mundo real.
Um benefício importante do método de observar e
avaliar antes de promover é que a decisão final estará baseada em fatos
concretos e o tempo consumido contribuiu para aproximar as partes e aumentar a
confiança recíproca.
Como veem, às vezes aprendemos mais sobre o nosso
ofício de administradores e gerentes pesquisando em outras fontes. E, depois,
sempre é bom ventilar a mente e pensar ”fora da caixa”.
Notas
1. Data provável em que Sêneca
escreve a carta citada no texto.
2. Sêneca, As Relações Humanas: a
amizade, os livros, a filosofia, o sábio e atitude perante a morte, 2ª edição,
Landy Editora, São Paulo, 2007