A culpa da derrocada deve mais
às nossas forças que às nossas debilidades. Os pontos fracos, coluna contátibil Haver,
não nos levam longe. Eles foram o motivo de termos sido barrados no baile,
digo... na entrevista de emprego, ou quando não fomos considerado apto a ser
promovido. O fato é já fizeram os estragos possíveis e, assim, aprendemos a
evitá-los.
Já os pontos fortes que estão
na coluna do Ter da contabilidade adubam o nosso salário, prestígio e
crescimento profissional. Agora, como não há bem ou mal que sempre dure, o
sucesso sobe à cabeça, nos tornar arrogantes, insensíveis aos outros, cegos
quanto às próprias limitações e aí periga de morrermos com o próprio veneno.
Sendo assim, mesmo que soe razoável, essa contabilidade binária (ponto positivo x ponto negativo) não reflete a vida real. Indivíduos, organizações e nações, normalmente, perecem em função das suas virtudes em vez de o serem devido às suas fraquezas.
O erro consiste em confundir aparência
(ponto forte é uma coisa, ponto fraco é outra coisa!) com a essência. Karl
Marx, o enfant terrible do pensamento moderno foi bastante claro ao dizer que a
ciência seria supérflua se a aparência coincidisse com essência.
Há duas causas para a morte anunciada: overdose e circunstâncias. Funciona assim: cada pessoa tem um conjunto de características (atributos pessoais natos e adquiridos) cuja mescla define a individualidade e a capacidade de realização. Estes atributos são continuamente testados, validados ou rejeitados em função do uso que lhes damos e das condições reais de ambiente e temperatura em que vivemos.
Qualquer predicado pessoal, em si, é neutro. É o uso e a situação que o torna ora positivo, ora negativo. Ser bem humorado, piadista costuma ser agradável, menos em velórios, no culto dominical ou no final do filme Casablanca.
O mesmo acontece com a determinação pessoal. Essencial para alcançar resultados, mas péssima quando o plano é falho ou os objetivos perseguidos são legal ou moralmente escusos.
Fortalezas e debilidades são faces de uma mesma moeda. O problema está na dosagem e na oportunidade. Na tragédia grega, por exemplo, o excesso de ousadia, coragem, inteligência, beleza ou busca da verdade absoluta era punido pelos Deuses.
Não foi a flecha envenenada de
Paris que matou Aquiles e sim a sua autoconfiança, coragem bravura e excelência
na arte marcial que o conduziu até o cenário em que foi abatido frente ao muro
da cidade de Tróia.
Narciso, belo e transbordando
de amor próprio sucumbiu por estar encantado com as próprias qualidades. Faça o
teste, caro leitor, e comprove se a franqueza, vez por outra, não se transforma
em rudeza, indelicadeza ou falta de empatia? Se a inteligência não resvala
facilmente no pedantismo? Se a empatia não prejudica a capacidade de avaliação
crítica e alimenta o excesso de tolerância consigo, com os filhos ou com os
subordinados? Se a autoconfiança e miopia diante dos perigos da vida não andam
de mãos dadas?
É um paradoxo, mas as nossas áreas de excelência são, ao mesmo tempo, nossos pontos fracos. Igualmente perturbador é constatar que é mais fácil mudar as características adquiridas ao longo da existência que mudar as características inatas.
Já conheci bons terapeutas e
consultores que eram conselheiros eficazes em áreas em que eles próprios tinham
problemas.
Enfim, vivendo e aprendendo, ou seja, evite de se apaixonar por seus pontos fortes, use com discernimento e assim eles não se converterão no doce e embriagador veneno que o prejudicará na vida pessoal e profissional.
Por Eugen Pfister
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