terça-feira, 20 de novembro de 2012

Educação e sociedade

A escola na sociedade

Por Eugen Pfister


Da pré-história até meados do século XX aprendíamos em casa e no local de trabalho praticamente tudo o que era necessário para sobreviver. Com a crescente complexidade social e organizacional surgida no início do século XX, a escola se consagrou como a instituição melhor equipada para preparar as futuras gerações para a vida, para o trabalho e para lidar com as contínuas mudanças sociais, econômicas, tecnológicas e culturais.

Por isso, a educação atual não pode se ocupar apenas em ensinar conteúdos escolares tradicionais, mas também deve desenvolver a habilidade do aluno em aprender a aprender com as inúmeras experiências cotidianas que ocorrem fora dos muros da escola.

O futuro já aconteceu e vivemos em uma sociedade em que o cérebro, a informação e o conhecimento se tornaram a principal fonte de poder, riqueza e produtividade. Isso obriga que o processo de aprendizagem dure o ciclo inteiro de uma existência.

Todas as transformações apontadas são responsáveis pela forte pressão social a favor da expansão e melhoria do sistema de ensino.

O desafio é enorme, pois, além de repensar a escola tradicional urge redefinir pelo que ela deve responsabilizar-se. Não é possível imaginar que, no atual contexto, o sistema de ensino continue sendo avaliado apenas pelas notas obtidas pelos alunos nas provas e pelos títulos acumulados pelos professores.

Um novo sistema de avaliação terá que demonstrar como a escola contribui para que o ex-aluno tenha sucesso na sua carreira, trabalho e convívio social. 

Obviamente, a escola não tem como obrigar o aluno a aplicar o conhecimento adquirido. A sua responsabilidade é semelhante à do médico de quem se espera que prescreva o tratamento correto para os males do paciente. O resto é com o indivíduo necessitado.


Questões

Quais são os principais obstáculos para uma escola efetivamente sintonizada com as diferentes necessidades e realidades sociais?

A qualidade do nosso sistema escolar não é homogênea. Mesmo assim, você tem exemplos de aplicações de mudanças discutidas no texto?

 

 

 

 

 

 

domingo, 11 de novembro de 2012

Gestão e Cultura

Gestão da Cultura Organizacional

Eugen Pfister 

“O empowerment não é parte da nossa cultura!” “Aqui o trabalho de equipe não é valorizado!” A cultura não isso, não aquilo e muito pelo contrário. O problema é que poucos se dão conta que a cultura é uma grande abstração
Posto de outra forma: a cultura está em nós ou fora de nós? Tanto dentro ou fora. Ela deve estar em algum lugar, deve se manifestar de alguma forma. Se não estamos debatendo o quê com quem e para que?

Desconfio que a ladinha “aqui é diferente” está, muitas vezes, a serviço de causas menores. Afinal, é mais seguro culpar a cultura que o superior imediato ou a alta administração pelos problemas organizacionais.

Já bati de frente com essa questão em trabalhos de consultoria, coaching e treinamento. Ironia do destino, contratado para orientar mudanças ou aperfeiçoar estilos e práticas gerenciais, fui logo advertido que isso não seria possível por que a cultura...

Se o CEO, a alta e média gerência e empregados não são agentes de mudanças e sim pacientes de uma cultura virtuosa ou perversa, o problema passa a ser onde encontrar a Cultura para trocar ideias.

Então. Será que entendi direto? Em nome ou por causa da cultura organizacional queremos mudanças desde que tudo fique como antes.

Já solicitei que convidassem a Sra. Cultura para resolver as questões que requeriam atenção imediata. Reação do público: silêncio, desconforto, risos ou uma mal contida censura a este consultor que vos escreve.

Meu entendimento e prática profissional recomenda que no lugar de mudar a cultura é preciso mudar os hábitos mentais e comportamentos das pessoas. Não adianta baixar decretos, fazer exortações morais ou treinamentos, mesmo que os consultores sejam antropólogos, sociólogos ou psicólogos. Quando muito estaremos expostos a formas distintas de conceituar a cultura, só que, erudição e a semântica não movem moinhos, organizações e pessoas.

Objetivamente. A cultura é criada, mantida ou modificada pelas pessoas. Ela é parte da rotina de trabalho tanto quanto dos procedimentos voltados para a qualidade total, produtividade, tomada de decisões ou redução de custos. A cultura representa a forma habitual de um grupo social pensar, sentir e comportar-se na busca da realização de metas e interesses comuns. Ela não é um adendo, uma nuvem que paira sobre as nossas cabeças, e sim o quê e como agimos no dia a dia. 
Para administrá-la contamos com as mesmas ferramentas gerenciais destinadas a assegurar que as coisas aconteçam: objetivos, comunicação, follow-up, reconhecimento psicológico (feedback positivo), recompensas materiais e sociais (status, poder, promoção) e consequências negativas (advertência, preterição nos casos de aumento salarial por mérito ou demissão).

A cultura não manda nem desmanda e sim o CEO, a diretoria executiva, a alta gerência, seu chefe e você. Quem cria, mantêm, aperfeiçoa ou se esconde atrás da cultura organizacional para evitar o ônus de responsabilizar-se pelas mudanças somos nós e ninguém mais.
Assim da próxima vez que estiver envolvido em uma discussão sobre cultura experimente substituir esse conceito pelo conceito de comportamento e vejam o que acontece.

 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ética, política e vida cotidiana

Os políticos mentem mais que os eleitores?

Por Eugen Pfister

Os políticos, como todos os infratores de outras profissões e atividades, jogam dados com a sorte (não serei pego) e com a impunidade (não serei condenado).

Será que eles mentem mais que o cidadão comum ou de outras categorias profissionais? A opinião pública e a mídia parecem dizer que sim. Pode ser? Agora, certeza mesmo, só tenho em relação a três coisas.

Uma: o famoso personagem Dr. House está certo: tudo mundo mente.

Outra: a mentira ignora raça, sexo, idade, profissão e outras condições sociais e econômicas.

A última: a mentira praticada por um grupo organizado (empresas, instituições públicas e sociais e partidos políticos) causam maiores danos à sociedade que mentiras cometidas individualmente.

Portanto, o que torna a mentira política particularmente grave é a frequência e as consequências negativas para o regime democrático, a economia e a sociedade. Então, por que isso acontece?

As hipóteses que seguem são frutos de uma reflexão pessoal inspirada na eleição municipal recém-encerrada.

O Efeito Grande Irmão. Em maior ou menor grau os eleitores esperam que o Estado venha em seu socorro e em socorro dos mais necessitados. Nessa via transitam frases como “rouba mais faz”, portanto, sejamos tolerantes, pois ruim com eles, pior sem eles.

O Efeito Ignorância. A complexidade da sociedade moderna cria enormes bolsões de ignorância que atingem políticos e eleitores, incluindo os portadores de diploma superior. No fundo dispomos de mais informação que de conhecimento. Portanto, apostar na ignorância, prometer mundos e fundos aos eleitores sem detalhar a disponibilidade de recursos será contestado por poucas vozes roucas.

A Aversão à Dura Realidade. Um político comedido nas propostas que declare realisticamente que é impossível atender a todas as demandas terá dificuldades em ser eleito.

O Efeito do Déficit Afetivo. Os políticos costumam dar a impressão de serem autoconfiantes, agressivos e autossuficientes. Mas agem como indivíduos que apresentam uma necessidade imperiosa de agradar e serem agradados. A dependência de votos facilita esse processo.

O Efeito Puxa Saco. Figuras poderosas (na política e fora dela) atraem especialistas em massagear egos, distorcer as noticiais e convencer o chefe que ele está sempre certo. Cercado de aduladores, os políticos acabam acreditando nas mentiras que ouvem.

O Efeito Goebbels. A mentira sistemática, conforme preconizava o ministro da Propaganda de Hitler, repetida à exaustão e por um longo período de tempo tende a ser vista como verdade por políticos e eleitores. É comum na política que a versão substitua os fatos.

O Efeito Ideologia. Políticos e partidos raciocinam em termos de princípios e valores que justificam as suas ações, mesmo as mais controversas. A compra de votos passa pela crença que isso está sendo feito em nome de uma causa nobre: promover o bem estar comum, aprovar leis sociais, segurança nacional, etc.

O Efeito Impunidade. A permissividade da sociedade e dos órgãos fiscalizadores e tolerância na aplicação das leis, no lugar de coibir as más práticas, acabam incentivando a persistência no erro, dada a certeza de que não haverá punição.

A questão não é determinar se na política mente-se mais ou menos que em outras esferas da vida pública privada. O que interessa é que na medida em que ela se torna um procedimento organizado, ela deixa de ser um problema individual e se constitui em um problema social.

Portanto, a tolerância frente a essa prática faz com que todos condenem teoricamente o atual estado de coisas, as partes interessadas e afetadas (eleito e eleitor) se posicionam, na prática, do lado do problema e não da solução.

Uma posição de tolerância zero embasada em ações concretas e congruentes é um bom começo para mudar as regras viciados desse jogo.

 

 

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Autogerenciamento

Otimistas, pessimistas ou realistas?

Por Eugen Pfister

 
Quando indagamos se um copo com 50% de água está meio cheio ou meio vazio estamos lidando com uma metáfora da qual se extrai uma conclusão conveniente, fácil e, ao mesmo tempo, equivocada.  É comum, por exemplo, afirmar que a percepção - meio cheio ou meio vazio - reflete uma visão de mundo otimista ou pessimista.

Hum! Opinião dispensa provas, e assim vale tanto quanto pesa.  Mas quanto pesa uma opinião? Quer dizer, se eu “apagasse” metade das opiniões que armazeno no cérebro, quantos quilos ou gramas perderia?

A experiência humana prova que é mais sábio e produtivo ser otimista e pessimista ao mesmo tempo do que ter que escolher entre uma ou outra posição.

Procure imaginar como seria a mente dos nossos remotos ancestrais habitando um mundo ameaçador, hostil; uma espécie frágil com um destino incerto. Vivendo da coleta e da caça, corriam diariamente o perigo de tornarem-se a própria caça.

É razoável supor que sobravam razões para serem pessimistas.

Contudo, nessas circunstâncias, o pessimismo tinha o lado útil para a sobrevivência da espécie: cautela, andar em bandos armados de paus e pedras, recolher-se a uma caverna a noite, etc.

Tudo isso sugere que o copo estava cheio: metade com pessimismo e a outra metade com otimismo. Um fenômeno que a mente cartesiana do “ou isso ou aquilo” não conseguem enxergar e processar.

Um dos passos para superar a dicotomia é lembrar a distinção entre ser corajoso e ser temerário proposta por Aristóteles. O primeiro não ignora o perigo, o segundo o ignora por completo. O primeiro lida com o seus receios, ou seja, corre riscos calculados. Já o temerário se atira na piscina do trampolim mais alto para depois verificar se ela tinha água.

O dramaturgo Bernard Shaw provavelmente discorda da linha de raciocínio adotada neste texto. Para ele, pessoas razoáveis se adaptam ao mundo, enquanto as pessoas não razoáveis procuram que o mundo se adapte a elas, gerando assim o progresso humano. Será?

Retoricamente, o argumento é perfeito e não deixa de contar parte da verdade. Só não conta toda a verdade, uma vez que indivíduos sensatos e criativos também ajudam a transformar o mundo e, às vezes, a salvá-lo dos revolucionários tresloucados.

O célebre discurso em que Wiston Churchill predisse que os ingleses sobreviveriam ao bombardeio nazista e derrotariam o inimigo, só que à custa de “sangue, suor e lágrimas”, foi ao mesmo tempo pessimista, otimista e realista. Reconheceu a dura realidade do poderio alemão, porém, não subestimou capacidade de resistência dos ingleses, a eficiência de suas forças armadas e da tecnologia bélica. Injetou ânimo na população e moveu céu e terra para preparar o país para uma longa e cruel guerra.

Sim, estamos sendo bombardeados. Sim, os alemães avançam vitoriosamente sobre a Europa ocidental e do leste. Sim, eles possuem uma máquina de guerra disciplinada, mortífera e estão armados até os dentes. Mas, todavia, porém e, contudo, venceremos, e eis o meu plano...

Desafios são superados com emoção e razão, determinação, cálculo, inteligência e não com bravatas. Vencer é uma possibilidade. O final depende de nossas condutas, de planos eficientes e recursos apropriados, além de uma mãozinha amiga das circunstâncias e do destino.

Talvez a grande lição nesta história seja que para vencer é conveniente pensar em tudo o que pode dar errado com os nossos planos, mas, uma vez decidido, sejamos otimistas na ação.


Questão

A ideia de ser pessimista na hora de planejar, esforçando-se para prever tudo o que dar errado, porém, sendo otimista e determinado ao agir, lhe parece realista?