segunda-feira, 30 de abril de 2012

Liderança e filosofia


O QUE PLATÃO DIRIA SOBRE AMAR O SUBORDINADO?


“Os gerentes devem amar os subordinados como amam a si próprios”. Já ouvi e li algumas  vezes  afirmações semelhantes feitas por palestrantes, consultores e articulistas.
Curioso. Sempre imaginei que gerentes estavam a serviço dos clientes que pagam as contas da organização, o seu próprio salário e o salário dos subordinados. E, além disso, o amor é um atributo próprio dos negócios?

Será que devemos incluí-lo na descrição de cargo gerencial e na avaliação 360º? Será que o subordinado quer ser amado? Como ensinar ou obrigar alguém a amar outra pessoa? O que acontece com o gerente que não possui suficiente amor próprio?

Isso sem falar das complicações de definir o amor. Do o amor romântico não deve ser, pois faltam dragões, princesas, cavaleiros, trovadores e bruxas. Também não creio que seja o amor cristão que pede que amemos uns aos outros, pois, nesse caso, o subordinado também teria que amar o chefe.

O sentimento amoroso se estende, igualmente, a subordinados incompetentes ou encrenqueiros conscientes? Oferecer-lhe-emos a outra face?

São tantos os amores – passional, paterno, materno, filial, sexual, amistoso ou mesmo o amor narcísico – que, de conceito em conceito, podemos incluir a reação neurobioquímica que desencadeia o sentimento amoroso, um fenômeno sobre o qual não temos controle.

Então, por que colocar a mão nessa cumbuca? Deixemos o tema nas mãos dos poetas que entendem mais da matéria que insípidos consultores e gerentes. Em vez de amar, trabalhe com profissionais que você respeite e, no lugar de ser amado, conquiste o respeito da equipe, dos seus pares, superiores e clientes.

Outras ocupações gerenciais mais objetivas e práticas incluem dar feedback construtivo, manter a equipe informada, negociar recursos junto aos superiores para que o trabalho flua, fazer bom uso dos conhecimentos, habilidades e experiência do subordinado, recompensar e promover os membros da equipe de acordo com o mérito e não o afeto.

Permutar o amor pela amizade também é uma atitude questionável, na medida em o gerente maneja informações confidências, deve priorizar necessidades organizacionais e tomar decisões que podem ferir os interesses particulares dos funcionários. Coisas que dificilmente resistem a relações mais íntimas, churrascos nos finais de semana e happy-hours com direito a troca de confidências.

O envolvimento afetivo exacerba conflitos de interesses, dilemas morais, induz a apreciações subjetivas e ações que favorecem subordinados amados ou amigos em detrimento dos subordinados com quem os vínculos são estritamente profissionais.

Por tudo isso e algo mais que tenha ficado de fora, líder e liderados estarão mais bem  servidos cuidando dos afazeres pertinentes ao trabalho, clientes, desempenho, problemas e oportunidades do que  discutindo a relação.

Sim, caro leitor, devolvamos o amor com suas benesses, dores de cabeça, mistérios e prazeres à esfera da vida afetiva, sexual, familiar e privada. No mundo dos negócios a razão é melhor conselheira que o coração. E, depois, há complicações de sobra nas organizações. Só falta  ficar brincando de “bem me quer, mal me quer”.

Mas, se é para insistir no tema, então que o amor seja apenas platônico!

Por Eugen Pfister

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