Mandela está
morto, longa vida ao Mandela
Eugen Pfister
Morreu junto com o líder
sul-africano Nelson Mandela uma parte do seu legado. Ele, sem dúvida, foi um
homem notável, com um sentimento de humanidade fora do comum.
Assumiu o controle de uma nação
em conflito e segregada. Conseguiu segurar as pontas entre as facções em pé de
guerra, acalmando os ânimos e refreando as correntes radicais do seu próprio
partido e dos militantes do apartheid.
Creio que todos nos emocionamos
diante das homenagens prestadas ao grande líder. Todas merecidas. A África do
Sul perde o maior líder e um dos grandes homens de todos os tempos. Fez uma
transição rumo à democracia pacífica, sem grandes incidentes e evitou que a
nação mergulhasse nas guerras intermináveis que dilaceram outras nações
africanas.
A nação multirracial ou arco-íris
se tornou seu grande projeto de poder que foi capaz de conduzi-lo a despeito do
seu passado rebelde e o ressentimento da nação de maioria negra contra os
brancos. Parecia impossível que um líder
tido como terrorista e que foi preso por 27 anos promovesse essa
reconciliação.
Ele tinha uma noção correta de
que os brancos estavam lá há três séculos e que muitos sequer conheciam a sua
distante pátria, além de conhecerem o funcionamento da burocracia governamental
e como manter o país conectado com o restante do mundo, principalmente o
primeiro.
A comissão da verdade que ele criou contou a história do período
sem esquecer os crimes do CNA (Congresso Nacional Africano ,partido ao qual
pertencia) e dos segregacionistas brancos. Nada que pudesse servir de objeto de
vingança foi esquecido.
Escolhendo esse
caminho o Mandela da paz se tornou uma
figura política inesquecível e digna das homenagens recebidas. Esse foi o enorme
e grandioso feito desse notável líder.
Seu grande feito foi
conduzir a nação para a paz e não para a guerra. Porém, aos poucos o CNA se transformou em uma máquina
complexa, burocrática e corrupta. Ninguém, no futuro próximo, se elegerá na
África do Sul sem pertencer ao seu quadro, e o futuro da nação arco-íris
depende dos seus futuros chefes e facções.
Em algum momento a
nação terá que libertar-se do poder absoluto do CNA, criando partidos
igualmente viáveis e transformando o sonho de Mandela em uma realidade
institucional, um legado que ele deixou como estadista, mas não pôde assegurar
como governante.
O problema da África
do Sul não é apenas a diferença entre brancos e negros mas também entre
as etnias negras. Nada destrói uma nação mais depressa que o conflito interno,
e essa obra Mandela não pôde concluir.
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