quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ética, política e vida cotidiana

Os políticos mentem mais que os eleitores?

Por Eugen Pfister

Os políticos, como todos os infratores de outras profissões e atividades, jogam dados com a sorte (não serei pego) e com a impunidade (não serei condenado).

Será que eles mentem mais que o cidadão comum ou de outras categorias profissionais? A opinião pública e a mídia parecem dizer que sim. Pode ser? Agora, certeza mesmo, só tenho em relação a três coisas.

Uma: o famoso personagem Dr. House está certo: tudo mundo mente.

Outra: a mentira ignora raça, sexo, idade, profissão e outras condições sociais e econômicas.

A última: a mentira praticada por um grupo organizado (empresas, instituições públicas e sociais e partidos políticos) causam maiores danos à sociedade que mentiras cometidas individualmente.

Portanto, o que torna a mentira política particularmente grave é a frequência e as consequências negativas para o regime democrático, a economia e a sociedade. Então, por que isso acontece?

As hipóteses que seguem são frutos de uma reflexão pessoal inspirada na eleição municipal recém-encerrada.

O Efeito Grande Irmão. Em maior ou menor grau os eleitores esperam que o Estado venha em seu socorro e em socorro dos mais necessitados. Nessa via transitam frases como “rouba mais faz”, portanto, sejamos tolerantes, pois ruim com eles, pior sem eles.

O Efeito Ignorância. A complexidade da sociedade moderna cria enormes bolsões de ignorância que atingem políticos e eleitores, incluindo os portadores de diploma superior. No fundo dispomos de mais informação que de conhecimento. Portanto, apostar na ignorância, prometer mundos e fundos aos eleitores sem detalhar a disponibilidade de recursos será contestado por poucas vozes roucas.

A Aversão à Dura Realidade. Um político comedido nas propostas que declare realisticamente que é impossível atender a todas as demandas terá dificuldades em ser eleito.

O Efeito do Déficit Afetivo. Os políticos costumam dar a impressão de serem autoconfiantes, agressivos e autossuficientes. Mas agem como indivíduos que apresentam uma necessidade imperiosa de agradar e serem agradados. A dependência de votos facilita esse processo.

O Efeito Puxa Saco. Figuras poderosas (na política e fora dela) atraem especialistas em massagear egos, distorcer as noticiais e convencer o chefe que ele está sempre certo. Cercado de aduladores, os políticos acabam acreditando nas mentiras que ouvem.

O Efeito Goebbels. A mentira sistemática, conforme preconizava o ministro da Propaganda de Hitler, repetida à exaustão e por um longo período de tempo tende a ser vista como verdade por políticos e eleitores. É comum na política que a versão substitua os fatos.

O Efeito Ideologia. Políticos e partidos raciocinam em termos de princípios e valores que justificam as suas ações, mesmo as mais controversas. A compra de votos passa pela crença que isso está sendo feito em nome de uma causa nobre: promover o bem estar comum, aprovar leis sociais, segurança nacional, etc.

O Efeito Impunidade. A permissividade da sociedade e dos órgãos fiscalizadores e tolerância na aplicação das leis, no lugar de coibir as más práticas, acabam incentivando a persistência no erro, dada a certeza de que não haverá punição.

A questão não é determinar se na política mente-se mais ou menos que em outras esferas da vida pública privada. O que interessa é que na medida em que ela se torna um procedimento organizado, ela deixa de ser um problema individual e se constitui em um problema social.

Portanto, a tolerância frente a essa prática faz com que todos condenem teoricamente o atual estado de coisas, as partes interessadas e afetadas (eleito e eleitor) se posicionam, na prática, do lado do problema e não da solução.

Uma posição de tolerância zero embasada em ações concretas e congruentes é um bom começo para mudar as regras viciados desse jogo.

 

 

 

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