Por Eugen Pfister
Os políticos, como todos os infratores de outras profissões
e atividades, jogam dados com a sorte (não serei pego) e com a impunidade (não
serei condenado).
Será que eles mentem mais que o cidadão comum ou de outras
categorias profissionais? A opinião pública e a mídia parecem dizer que sim. Pode
ser? Agora, certeza mesmo, só tenho em relação a três coisas.
Uma: o famoso personagem Dr. House está certo: tudo mundo
mente.
Outra: a mentira ignora raça, sexo, idade, profissão e outras condições sociais e econômicas.
A última: a mentira praticada por um grupo organizado (empresas,
instituições públicas e sociais e partidos políticos) causam maiores danos à
sociedade que mentiras cometidas individualmente.
Portanto, o que torna a mentira política particularmente
grave é a frequência e as consequências negativas para o regime democrático, a
economia e a sociedade. Então, por que isso acontece?
As hipóteses que seguem são frutos de uma reflexão pessoal
inspirada na eleição municipal recém-encerrada.
O Efeito Grande Irmão. Em maior ou menor grau os
eleitores esperam que o Estado venha em seu socorro e em socorro dos mais
necessitados. Nessa via transitam frases como “rouba mais faz”, portanto,
sejamos tolerantes, pois ruim com eles, pior sem eles.
O Efeito Ignorância. A complexidade da sociedade moderna cria enormes bolsões de ignorância que atingem políticos e eleitores, incluindo os portadores de diploma superior. No fundo dispomos de mais informação que de conhecimento. Portanto, apostar na ignorância, prometer mundos e fundos aos eleitores sem detalhar a disponibilidade de recursos será contestado por poucas vozes roucas.
A Aversão à Dura Realidade. Um político comedido nas
propostas que declare realisticamente que é impossível atender a todas as demandas
terá dificuldades em ser eleito.
O Efeito do Déficit Afetivo. Os políticos costumam
dar a impressão de serem autoconfiantes, agressivos e autossuficientes. Mas agem
como indivíduos que apresentam uma necessidade imperiosa de agradar e serem
agradados. A dependência de votos facilita esse processo.
O Efeito Puxa Saco. Figuras poderosas (na política e fora dela) atraem especialistas em massagear egos, distorcer as noticiais e convencer o chefe que ele está sempre certo. Cercado de aduladores, os políticos acabam acreditando nas mentiras que ouvem.
O Efeito Goebbels. A mentira sistemática, conforme preconizava o ministro da Propaganda de Hitler, repetida à exaustão e por um longo período de tempo tende a ser vista como verdade por políticos e eleitores. É comum na política que a versão substitua os fatos.
O Efeito Ideologia. Políticos e partidos raciocinam
em termos de princípios e valores que justificam as suas ações, mesmo as mais
controversas. A compra de votos passa pela crença que isso está sendo feito em
nome de uma causa nobre: promover o bem estar comum, aprovar leis sociais, segurança
nacional, etc.
O Efeito Impunidade. A permissividade da sociedade e
dos órgãos fiscalizadores e tolerância na aplicação das leis, no lugar de
coibir as más práticas, acabam incentivando a persistência no erro, dada a
certeza de que não haverá punição.
A questão não é determinar se na política mente-se mais ou
menos que em outras esferas da vida pública privada. O que interessa é que na
medida em que ela se torna um procedimento organizado, ela deixa de ser um
problema individual e se constitui em um problema social.
Portanto, a tolerância frente a essa prática faz com que todos condenem teoricamente o atual estado de coisas, as partes interessadas e afetadas (eleito e eleitor) se posicionam, na prática, do lado do problema e não da solução.
Uma posição de tolerância zero embasada em ações concretas e
congruentes é um bom começo para mudar as regras viciados desse jogo.
Excelente, Eugenio! Esse foi para o Facebook.
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