Por Eugen Pfister
Hum! Opinião dispensa provas, e assim vale tanto quanto pesa. Mas
quanto pesa uma opinião? Quer dizer, se
eu “apagasse” metade das opiniões que armazeno no cérebro, quantos quilos ou
gramas perderia?
A experiência humana prova que é mais sábio e produtivo ser otimista e
pessimista ao mesmo tempo do que ter que escolher entre uma ou outra posição.
Procure imaginar como seria a mente dos nossos remotos ancestrais
habitando um mundo ameaçador, hostil; uma espécie frágil com um destino
incerto. Vivendo da coleta e da caça, corriam diariamente o perigo de
tornarem-se a própria caça.
É razoável supor que sobravam razões para serem pessimistas.
Contudo, nessas circunstâncias, o pessimismo tinha o lado útil para a
sobrevivência da espécie: cautela, andar em bandos armados de paus e pedras,
recolher-se a uma caverna a noite, etc.
Tudo isso sugere que o copo estava cheio: metade com pessimismo e a outra
metade com otimismo. Um fenômeno que a mente cartesiana do “ou isso ou aquilo”
não conseguem enxergar e processar.
Um dos passos para superar a dicotomia é lembrar a distinção entre ser
corajoso e ser temerário proposta por Aristóteles. O primeiro não ignora o
perigo, o segundo o ignora por completo. O primeiro lida com o seus receios, ou
seja, corre riscos calculados. Já o temerário se atira na piscina do trampolim
mais alto para depois verificar se ela tinha água.
O dramaturgo Bernard Shaw provavelmente discorda da
linha de raciocínio adotada neste texto. Para ele, pessoas razoáveis se adaptam
ao mundo, enquanto as pessoas não razoáveis procuram que o mundo se adapte a
elas, gerando assim o progresso humano. Será?
Retoricamente, o argumento é perfeito e não deixa de
contar parte da verdade. Só não conta toda a verdade, uma vez que indivíduos
sensatos e criativos também ajudam a transformar o mundo e, às vezes, a
salvá-lo dos revolucionários tresloucados.
O célebre discurso em que Wiston Churchill predisse
que os ingleses sobreviveriam ao bombardeio nazista e derrotariam o inimigo, só
que à custa de “sangue, suor e lágrimas”, foi ao mesmo tempo pessimista,
otimista e realista. Reconheceu a dura realidade do poderio alemão, porém, não
subestimou capacidade de resistência dos ingleses, a eficiência de suas forças
armadas e da tecnologia bélica. Injetou ânimo na população e moveu céu e terra
para preparar o país para uma longa e cruel guerra.
Sim, estamos sendo bombardeados. Sim, os alemães avançam
vitoriosamente sobre a Europa ocidental e do leste. Sim, eles possuem uma
máquina de guerra disciplinada, mortífera e estão armados até os dentes. Mas,
todavia, porém e, contudo, venceremos, e eis o meu plano...
Desafios são superados com emoção
e razão, determinação, cálculo, inteligência e não com bravatas. Vencer é uma
possibilidade. O final depende de nossas condutas, de planos eficientes e
recursos apropriados, além de uma mãozinha amiga das circunstâncias e do
destino.
Talvez a
grande lição nesta história seja que para vencer é conveniente pensar em tudo o
que pode dar errado com os nossos planos, mas, uma vez decidido, sejamos
otimistas na ação.
Questão
A ideia de ser pessimista na hora de planejar,
esforçando-se para prever tudo o que dar errado, porém, sendo otimista e
determinado ao agir, lhe parece realista?
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