segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Autogerenciamento

Otimistas, pessimistas ou realistas?

Por Eugen Pfister

 
Quando indagamos se um copo com 50% de água está meio cheio ou meio vazio estamos lidando com uma metáfora da qual se extrai uma conclusão conveniente, fácil e, ao mesmo tempo, equivocada.  É comum, por exemplo, afirmar que a percepção - meio cheio ou meio vazio - reflete uma visão de mundo otimista ou pessimista.

Hum! Opinião dispensa provas, e assim vale tanto quanto pesa.  Mas quanto pesa uma opinião? Quer dizer, se eu “apagasse” metade das opiniões que armazeno no cérebro, quantos quilos ou gramas perderia?

A experiência humana prova que é mais sábio e produtivo ser otimista e pessimista ao mesmo tempo do que ter que escolher entre uma ou outra posição.

Procure imaginar como seria a mente dos nossos remotos ancestrais habitando um mundo ameaçador, hostil; uma espécie frágil com um destino incerto. Vivendo da coleta e da caça, corriam diariamente o perigo de tornarem-se a própria caça.

É razoável supor que sobravam razões para serem pessimistas.

Contudo, nessas circunstâncias, o pessimismo tinha o lado útil para a sobrevivência da espécie: cautela, andar em bandos armados de paus e pedras, recolher-se a uma caverna a noite, etc.

Tudo isso sugere que o copo estava cheio: metade com pessimismo e a outra metade com otimismo. Um fenômeno que a mente cartesiana do “ou isso ou aquilo” não conseguem enxergar e processar.

Um dos passos para superar a dicotomia é lembrar a distinção entre ser corajoso e ser temerário proposta por Aristóteles. O primeiro não ignora o perigo, o segundo o ignora por completo. O primeiro lida com o seus receios, ou seja, corre riscos calculados. Já o temerário se atira na piscina do trampolim mais alto para depois verificar se ela tinha água.

O dramaturgo Bernard Shaw provavelmente discorda da linha de raciocínio adotada neste texto. Para ele, pessoas razoáveis se adaptam ao mundo, enquanto as pessoas não razoáveis procuram que o mundo se adapte a elas, gerando assim o progresso humano. Será?

Retoricamente, o argumento é perfeito e não deixa de contar parte da verdade. Só não conta toda a verdade, uma vez que indivíduos sensatos e criativos também ajudam a transformar o mundo e, às vezes, a salvá-lo dos revolucionários tresloucados.

O célebre discurso em que Wiston Churchill predisse que os ingleses sobreviveriam ao bombardeio nazista e derrotariam o inimigo, só que à custa de “sangue, suor e lágrimas”, foi ao mesmo tempo pessimista, otimista e realista. Reconheceu a dura realidade do poderio alemão, porém, não subestimou capacidade de resistência dos ingleses, a eficiência de suas forças armadas e da tecnologia bélica. Injetou ânimo na população e moveu céu e terra para preparar o país para uma longa e cruel guerra.

Sim, estamos sendo bombardeados. Sim, os alemães avançam vitoriosamente sobre a Europa ocidental e do leste. Sim, eles possuem uma máquina de guerra disciplinada, mortífera e estão armados até os dentes. Mas, todavia, porém e, contudo, venceremos, e eis o meu plano...

Desafios são superados com emoção e razão, determinação, cálculo, inteligência e não com bravatas. Vencer é uma possibilidade. O final depende de nossas condutas, de planos eficientes e recursos apropriados, além de uma mãozinha amiga das circunstâncias e do destino.

Talvez a grande lição nesta história seja que para vencer é conveniente pensar em tudo o que pode dar errado com os nossos planos, mas, uma vez decidido, sejamos otimistas na ação.


Questão

A ideia de ser pessimista na hora de planejar, esforçando-se para prever tudo o que dar errado, porém, sendo otimista e determinado ao agir, lhe parece realista?

 

 

 

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