“Não há valores constantes na história
moral”. A observação consta do texto - Ética: devagar que o Santo é de Barro
1/3 -, não como defesa do relativismo moral e, sim, para destacar que formular
juízos morais definitivos em um mundo pluralista é uma tarefa cheia de
complicações.
O pluralismo moral não devia ter sido um
problema para nossos ancestrais que viviam em pequenas comunidades, isoladas e
autossuficientes nos aspectos materiais e morais. Com o advento da
democratização do ensino, das tecnologias da comunicação e da globalização, a
diversidade de crenças e estilos de vida adentrou a nossa casa.
Tudo isso atrapalha a vida do moralista sincero e convicto. No lar, por exemplo, há filhos com percings, tatuagens, cortes de cabelo estranhos, ídolos musicais extravagantes e comportamentos sexuais que ele reprova. Se solteiro, vizinhos, rádio, televisão, jornais, revistas e a internet se encarregarão de subministrar-lhe doses diárias de pluralismo de estilos de vida.
Dado que o sistema moral tradicional não consegue lidar eficazmente com um mundo fragmentado, esboçam-se três reações: (a) exacerbação dos valores, normalmente religiosos, tradicionais; (b) lassidão moral; (c) amoralismo. Nenhuma dessas opções representa uma solução para nossos dilemas morais.
O pensador conservador, contudo, presta um
serviço inestimável às novas gerações, ao lembrar que novo não é sinônimo de
melhor. A nova geração devolve o favor na mesma moeda, advertindo que nem tudo
que é tradicional torna a vida mais feliz e nobre.
Nesse redemoinho de ideias, projetos
existenciais e desejos impera a confusão entre o que é moral, o que é legal e o
que é ético. Explico.
A moral e a lei são doutrinárias. Elas fornecem respostas sobre como devemos viver, objetivando congelar usos e costumes, transformando-os em códigos de conduta e códigos legais rígidos sobre o que é e o que não é permitido.
A ética, por seu turno, nos convida a
refletir sobre como viver melhor. O seu alvo é o aperfeiçoamento, não a
perfeição. E a ferramenta chave é o processo de reflexão crítica sobre o
VALOR dos nossos VALORES.
Mais que julgar, conferir atestados de boa conduta ou condenar, a ética instituí um processo voltado a otimizar ganhos e minimizar danos aos nossos semelhantes e ao meio-ambiente, de olho tanto na geração atual como nas gerações vindouras.
Portanto, não existe ética do particular;
ética disso e daquilo e, sim, a disposição de refletir sobre as consequências
das nossas crenças e atos. Sobre as opções e os efeitos positivos e negativos
que causam. E, uma vez decididos,
nos responsabilizar pelos efeitos decorrentes da ação e aprender a pensar e agir com maior
discernimento e clareza no futuro.
Não dogmático por natureza, o método ético é sábio o suficiente para reconhecer a relatividade dos pontos de vista, inclusive o próprio, e questionar se viveríamos melhor com o ideário A ou com ideário B.
Exemplos: viveríamos melhor com ou sem o
divórcio, com ou sem a pena de morte, com a teoria que a finalidade dos
negócios é lucrar ou com a teoria que o lucro é uma consequência da capacidade
de satisfazer necessidades sociais e dos
clientes?
No terceiro artigo, aprofundarei essas
considerações focando questões organizacionais práticas do mundo. Até lá, que
tal pensar duas vezes antes de agir? Uma
usando as crenças atuais, a segunda adotando outros critérios e crenças e, aí,
optar pelo curso de ação que não apenas nos beneficie, mas que favoreça ao
maior número de pessoas.
Por Eugen Pfister
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