terça-feira, 24 de abril de 2012

Ética e filosofia

Ética: pense duas vezes antes de agir (2/3)

“Não há valores constantes na história moral”. A observação consta do texto - Ética: devagar que o Santo é de Barro 1/3 -, não como defesa do relativismo moral e, sim, para destacar que formular juízos morais definitivos em um mundo pluralista é uma tarefa cheia de complicações.

O pluralismo moral não devia ter sido um problema para nossos ancestrais que viviam em pequenas comunidades, isoladas e autossuficientes nos aspectos materiais e morais. Com o advento da democratização do ensino, das tecnologias da comunicação e da globalização, a diversidade de crenças e estilos de vida adentrou a nossa casa. 

Tudo isso atrapalha a vida do moralista sincero e convicto. No lar, por exemplo, há filhos com percings, tatuagens, cortes de cabelo estranhos, ídolos musicais extravagantes e comportamentos sexuais que ele reprova. Se solteiro,  vizinhos, rádio, televisão, jornais, revistas e a internet se encarregarão de subministrar-lhe doses diárias de pluralismo de estilos de vida.

Dado que o sistema moral tradicional não consegue lidar eficazmente com um mundo fragmentado, esboçam-se três reações: (a) exacerbação dos valores, normalmente religiosos, tradicionais; (b) lassidão moral; (c) amoralismo. Nenhuma dessas opções representa uma solução para nossos dilemas morais.

O pensador conservador, contudo, presta um serviço inestimável às novas gerações, ao lembrar que novo não é sinônimo de melhor. A nova geração devolve o favor na mesma moeda, advertindo que nem tudo que é tradicional torna a vida mais feliz e nobre.

Nesse redemoinho de ideias, projetos existenciais e desejos impera a confusão entre o que é moral, o que é legal e o que é ético.  Explico.

A moral e a lei são doutrinárias. Elas fornecem respostas sobre como devemos viver, objetivando congelar usos e costumes, transformando-os em códigos de conduta e códigos legais rígidos sobre o que é e o que não é permitido.

A ética, por seu turno, nos convida a refletir sobre como viver melhor. O seu alvo é o aperfeiçoamento, não a perfeição. E a ferramenta chave é o processo de reflexão crítica sobre o VALOR dos nossos VALORES.

Mais que julgar, conferir atestados de boa conduta ou condenar, a ética  instituí um processo voltado a otimizar ganhos e minimizar danos aos nossos semelhantes e ao meio-ambiente, de olho tanto na geração atual como nas gerações vindouras.

Portanto, não existe ética do particular; ética disso e daquilo e, sim, a disposição de refletir sobre as consequências das nossas crenças e atos. Sobre as opções e os efeitos positivos e negativos que  causam. E, uma vez decididos, nos  responsabilizar  pelos efeitos decorrentes da ação e  aprender a pensar e agir com maior discernimento e clareza no futuro.

Não dogmático por natureza, o método ético é sábio o suficiente para reconhecer a relatividade dos pontos de vista, inclusive o próprio, e questionar se viveríamos melhor com o ideário A ou com ideário B.

Exemplos: viveríamos melhor com ou sem o divórcio, com ou sem a pena de morte, com a teoria que a finalidade dos negócios é lucrar ou com a teoria que o lucro é uma consequência da capacidade de satisfazer  necessidades sociais e dos clientes?

No terceiro artigo, aprofundarei essas considerações focando questões organizacionais práticas do mundo. Até lá, que tal  pensar duas vezes antes de agir? Uma usando as crenças atuais, a segunda adotando outros critérios e crenças e, aí, optar pelo curso de ação que não apenas nos beneficie, mas que favoreça ao maior número de pessoas. 

Por Eugen Pfister






Nenhum comentário:

Postar um comentário