quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Organizações, gestão e democracia

Por Eugen Pfister

 
O futuro da democracia depende menos dos partidos e dos políticos que do bom desempenho das organizações públicas, privadas e sócio-filantrópicas e dos seus administradores, gestores, dirigentes e voluntários. Vejamos por que.

Para Peter Drucker, o principal evento da história contemporânea não foram as revoluções soviética e chinesa, nem a I e a II guerras mundiais e sim o advento da sociedade organizacional. Herdeiros dessa sociedade não questionamos as implicações de estarmos nas mãos de uma rede de organizações com ou sem fins lucrativos que cuidam da saúde, segurança, habitação, educação, emprego, carreira, alimentação, casamento, lazer, religião, auto-realização, enterro etc., do nascimento à morte.

A sociedade democrática exige um sistema de gestão eficaz e eficiente Se as organizações não funcionarem a contento o regime democrático entrará em colapso. E a alternativa seria uma sociedade tutelada pelo Estado, partido e caudilhos. Nela nos transformamos em súditos sem direito à liberdade de pensar, de eleger o estilo de vida e acessar a informação com base no discernimento pessoal.

A nossa sociedade também exige um grande esforço de coordenação, cooperação, negociação e constância de propósitos. Líderes e gestores organizacionais incompetentes são uma ameaça à democracia.

A má gestão gera um desempenho medíocre que pavimenta o caminho rumo ao populismo ou totalitarismo. Afinal, como esperar que o cidadão-contribuinte e consumidor defenda um sistema caro, corrupto e ineficaz?

Para evitar um regime autocrático, nossas organizações devem agir como órgãos da sociedade que  contribuem para o bem estar da atual e das futuras gerações. A administração e a gerência dessas organizações devem ser responsabilizadas pelo desempenho de suas instituições que, na essência, significa fazer as coisas certas com a maior qualidade e menor custo possível para que os beneficiários se sintam respeitados e satisfeitos com os bens e serviços pelos quais pagam.

A autofagia caracterizada pela defesa intransigente dos interesses particulares de cada um dos setores é o começo do fim da democracia. Hoje, o setor público, notadamente as organizações políticas e governamentais, perdeu o senso de propósito e de responsabilidade. Aliada a isso, a má gestão tem elevado o chamado custo Brasil representado pelo déficit público, carga tributária escorchante, ineficiência administrativa, altos custos trabalhistas e previdenciários, legislação fiscal complexa e corrupção. Mesmo assim, estamos entre as 10 maiores economias do mundo graças ao setor privado (agronegócio, manufatura e serviços), à rede de pequenos empreendedores e a diligência da população economicamente ativa. Uma situação que faz jus à piada que o país cresce durante a noite quando os políticos dormem.

Quando ocorrem catástrofes naturais, as comunidades afetadas recebem mais ajuda da própria população, canalizada por meio das entidades sociais e filantrópicas, que do Estado que sequer consegue evitar o desvio de verbas, dos bens doados e da exploração política da desgraça alheia.

Se as empresas privadas, por seu turno, falharem, todos sofrem, pois o efeito se traduz em deterioração do PIB, da arrecadação de impostos, da geração de empregos, menos recursos para as ações de responsabilidade social e aumento dos gastos assistenciais do governo.

Não sabemos até quando esse estado de coisas pode perdurar. Porém, sabemos que só os ideólogos, fanáticos, cínicos e ingênuos creem ou fingem crer que o melhor dos mundos pode ser construído por um Estado forte tutelando uma sociedade fraca. A democracia exige uma sociedade forte que cobre eficiência do governo e imponha limites ao poder do Estado.

Enfim, apesar das merecidas críticas ao setor privado, ele, junto com as organizações voluntárias civis, tem demonstrado maior eficiência e eficácia em atender as necessidades individuais, sociais e ambientais dentro das regras vigentes de uma sociedade democrática baseada na livre iniciativa, responsabilidade social, propriedade privada e direito de escolha.

 
Questões para reflexão

De alguma maneira o texto que você acaba de ler muda a sua visão como gestor  profissional ou  cidadão? Como?

O que o cidadão comum pode fazer para fortalecer o sistema democrático, evitando que ele se torne ineficiente?

 

 

 

 

 

 

 

 

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