Eugen Pfister
Você já sentiu que podia mudar as regras do jogo. Introduzir
alterações, mesmo que pequenas, que fizessem uma grande diferença e depois
acabou desistindo? Espero, então, que a
leitura deste texto possa ascender a chama que, aparentemente, extinguiu-se.
Esta é uma história real de dois homens que transformaram o
conceito de um jogo tradicional: o beisebol. Na verdade não tinham muito a
perder: o time tinha a sina de eterno derrotado, por que não arriscar?
Afinal, o que é necessário para mudar as regras? Capital,
ideias, determinação, liderança? É o que mostra o filme O Homem Que Mudou as
Regras do Jogo. E o que surpreende é que existe uma aula de gerenciamento de
mudanças bastante semelhante ao que disse Peter Drucker a respeito do assunto.
Ele foi o anfitrião oculto nessa história.
A regra convencional acerca do desempenho humano é que ele
se enquadra em três categorias: uma minoria com desempenho superior, outra
minoria com desempenho inferior e a maioria se espremendo no espaço do
desempenho padrão. Contudo, a tese de Drucker é que mesmo pessoas comuns se
gerenciadas de forma diferente tornam-se superestrelas para usar a sua
linguagem. O filme prova que ele tinha razão.
O Oakland A uma equipe de beisebol da liga principal, com
desempenho inferior. Também era pobre comparada aos outros times. Os poucos
astros que possuía eram logo comprados pelas equipes maiores. Era o tipo de
concorrência que não conseguiam vencer, um eterno recomeço a cada campeonato. Contudo,
a história se reverte no dia em que o gerente geral, numa interpretação
brilhante de Brad Pitt, é forçado a recompor a equipe e o próprio conceito de
contratação.
Após uma reunião cansativa com os olheiros e ouvindo os palpites de sempre – “esse não tem jeito, a namorada é feia, só uma pessoa com problemas escolhe uma mulher feia” ou, ainda, “o fulano era bom porque o órgão genital chegava à sala de reunião antes dele” – Billy Bean (Brad Pitt) se frustra. A conversa de sempre, sem uma única ideia que pudesse ser usada para competir com os grandes. Todo ano era a mesma coisa, como repor quem perdemos. Resposta: impossível! Não temos o dinheiro para adquirir um astro, temos que apostar no talento incipiente, barato e promissor.
Ele se exaspera com o grupo de olheiros que insistem nas
velhas teses lembrando que o que separa o Oakland do primeiro era de
114.457.768 para 39.722, 689 dólares. Era uma luta de classes e enquanto
continuassem a competir com aquele paradigma de quem comprar perderiam.
Mesmo assim, sai da reunião sem uma ideia precisa do que
poderia ser feito, salvo comprar novos jogadores. Há uma negociação difícil com
um time oponente e na reunião, para seu azar, depara-se com um jovem que
atrapalha a sua estratégia. Peter Brand (Jonah
Hill) consegue que o seu time mude de
ideia sobre a venda de um dado jogador para o Oakland.
Finda a reunião Billy vai atrás de Peter cobrando
explicações sobre o que aconteceu naquela sala e quem era ele, afinal de
contas. Descobre que o jovem se formara em economia e tinha um estudo
estatístico sobre os jogadores da liga principal de beisebol. Com base no
estudo concluirá que havia uma série de jogadores com um bom desempenho, porém,
cujas carreiras estavam empacadas, por terem seus pontos fracos igualmente
demandados pela equipe. Nada de novo: o forte e o fraco e a exigência que
cuidassem de ambos.
Mas, eis a questão, o que os tornava fracos era ter que
jogar com as debilidades. Pense e veja o que aconteceria se você estivesse em
busca da excelência no desempenho alterasse essa regra e passasse a investir
apenas nas fortalezas individuais de cada jogador. Essa era ideia de Peter: use
apenas o que eles têm de melhor, você não compra desportistas, você compra a
vitória nos jogos, é essa é a forma de pensar de quem quer ganhar.
Billy se entusiasma com o revolucionário conceito e contrata
o autor e coloca o plano em ação. Dispensa metade do time, adquire novos
jogadores e enfrenta a oposição cerrada dos olheiros, do técnico de campo Art (Philip
Seymour), da mídia especializada e dos torcedores.
Após alguns reveses iniciais, a fortuna sorri. O time se
torna vice-campeão em 2002. Não apenas isso, bate um recorde ao vencer 20 jogos
consecutivos. A tese de Drucker de 19671, e recentemente defendida
por Marcus Bukingham e Donald O. Clifton2, fora posta em prática: os
pontos fortes são a solução.
Billy e Peter mostraram que era possível mudar as regras
passando a jogar com base nas fortalezas dos atletas. O método é copiado pelos
grandes times da liga. Billy é convidado para ir para uma mega equipe e recusa.
Razões pessoais que refletiam o desejo de ganhar numa equipe pequena. Mesmo
assim entrou para a história como o homem que mudou as regras do jogo.
Quanto a Drucker... Bom foi assim que ele foi ao cinema.
Notas
1.
O Gerente Eficaz, Zahar, Rio de Janeiro, 1967.
Não foram as regras que foram mudadas, mas o jeito de tratar os parasitas que invadem todos os negócios, cujos administradores, descuidam, sistematicamente, de defendê-los contra tais corpos indesejáveis.
ResponderExcluirCaro Sérgio,
ResponderExcluirÉ um ponto de vista defensável e, na essência, não alteraria o artigo. Porém, prefiro crer que simplesmente trocar jogadores é uma norma ou regra que tinha que ser quebrada. Quando a pergunta passa a ser "o que fazer para ganhar o jogo", há todo um jogo novo em cena, com novas possibilidades. Mas o seu ponto de vista também representa uma forma de ver a situação. Grato pelo feedback.
O que fazer para ganhar o jogo? Lembro-me de um proverbio chinês que fala sobre isso da seguinte maneira: Quem conhece, profundamente, a si e a seu adversário, não perderá nenhum confronto. Quem conhece a si, mas não conhece seus adversários, ganhará algumas e perderá outras. Entretanto, quem não conhece a si e nem seus adversários, perderá todas. De fato, meu comentário não altera a essência do artigo. Apenas aponta outros culpados para os maus resultados do time. Deste modo, com a lembrança deste provérbio, eu reforço o artigo, pois o treinador explorou o talento de cada jogador para fortalecer o coletivo. Portanto, ele se superou na tarefa de conhecer o material humano que tinha a sua disposição. Um grande abraço.
ResponderExcluirSábio provérbio e sábio o gerente que usou os pontos fortes para obter os resulados que de outra forma não conseguiria.
ExcluirEUGEN, só acessei seu texto agora. Além de interessante, suscitou outros comentários do SÉRGIO e suas respostas. Sempre na corrida, hoje sou lojista e dependo do meu dia à dia, cada dia, mas me arrisco e faço este pequeno pit stop:
ResponderExcluir- no varejo de balcão, onde as novidades em administração demoram à chegar, começa-se a falar somente agora em resiliência, que parece se aplicar ao que se passa com o time do seu texto.
Além de aprender com os próprios erros, tem sucesso quem aprende e se adapta melhor às condições e adversidades do meio ambiente de negócios - o Brasil 130º em dificuldades entre 187 países, cf Doing Business da ONU/IFC/Banco Mundial, onde a concorrência, ou o governo, ou o shopping locador, ou o franqueador, ou todos juntos, são barreiras que precisam ser transpostas adequadamente, sem o que não existe operação bem sucedida, por melhor que seja sua rentabilidade. Abraço, EDU
ps: para comentar conta desatualizada do google