Treinamento:
a insustentável leveza
do
ser
Eugen
Pfister
Estou convencido que o atalho do treinamento de
conveniência, incapaz de produzir provas sustentáveis da sua eficácia quanto à
transferência de aprendizagem não é produto da má fé, mas antes da incapacidade
de gerar uma teoria que explique os condicionamentos da performance humana no
universo do trabalho.
Como nem sempre os gerentes e profissionais de T&D[1] possuem um entendimento profundo e sistêmico acerca dos fatores que favorecem ou inibem a produtividade humana, a praxe têm sido prescrever remédios genéricos[2], baseados em teorias incompletas.
Por força de atacar o sintoma e não as causas,
T&D se vê em palpos de aranha diante do desafio de demonstrar o que
acontece depois que as luzes da sala-de-aula se apagaram.
Esse estado de coisas é agravado em virtude de
levantamentos de necessidades opinativos onde a teoria particular do gerente
informante substitui a investigação rigorosa dos fatos e o questionamento[3] da
“verdade oficial”.
Preso na armadilha da dupla falta de informação – a
teoria profunda da performance humana e as opiniões gerenciais incompletas,
quando não equivocadas – o processo de ensino e aprendizagem é abortado e se
torna um evento em si.
E da mesma forma que nos contos de fadas e novelas,
para que a história tenha um final feliz é preciso avaliar o curso e não a
performance na vida real.
O grande barato da avaliação consiste em saber se o
treinando curtiu o curso e se ele “acha” que o conteúdo é
aplicável. Procurar a verdade através de pesquisas sistemáticas e monitoramento
da performance está fora de cogitação.
Creio que a insustentabildade e leveza dessa prática
passou desapercebida (ou ao menos não incomodo o suficiente) em virtude de
T&D ter surfado nas ondas da indústria dos modismos que prometiam a solução
final e definitiva.
Sem tempo para processar e aplicar a teoria na
prática, pulamos de galho em galho dos
vários modismos gerenciais e organizacionais sem provas que
as melhorias organizacionais foram impulsionadas pelo treinamento.
Agora, sob fogo cerrado para justificar e cortar
custos, chegou à hora da onça beber água.
Primeiro, há uma consciência crescente que o
problema hoje é mais quanto a aplicar o conhecimento e muito menos o de buscar
um novo saber.
Segundo, os modismos gerenciais e organizacionais
fizeram mais barulho que efeitos práticos palpáveis.
Terceiro, a ditadura dos custos vivida diuturnamente
pelas organizações, conspira a favor de
um treinamento orientado para resultados específicos, mensuráveis e
sustentáveis.
Se minha aposta estiver certa, a boa notícia é que
há tempo hábil para T&D fazer a sua reengenharia e se tornar protagonista
desta revolução.
Uma má notícia seria a inércia e a crença que não há
nada de novo debaixo do sol.
Em
todo caso, a opção é sua.
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