terça-feira, 23 de abril de 2013


Treinamento: a insustentável leveza
do ser

Eugen Pfister

Estou convencido que o atalho do treinamento de conveniência, incapaz de produzir provas sustentáveis da sua eficácia quanto à transferência de aprendizagem não é produto da má fé, mas antes da incapacidade de gerar uma teoria que explique os condicionamentos da performance humana no universo do trabalho.

Como nem sempre os gerentes e profissionais de T&D[1] possuem um entendimento profundo e sistêmico acerca dos fatores que favorecem ou inibem a produtividade humana, a praxe têm sido prescrever remédios genéricos[2], baseados em teorias incompletas.

Por força de atacar o sintoma e não as causas, T&D se vê em palpos de aranha diante do desafio de demonstrar o que acontece depois que as luzes da sala-de-aula se apagaram.

Esse estado de coisas é agravado em virtude de levantamentos de necessidades opinativos onde a teoria particular do gerente informante substitui a investigação rigorosa dos fatos e o questionamento[3] da “verdade oficial”.

Preso na armadilha da dupla falta de informação – a teoria profunda da performance humana e as opiniões gerenciais incompletas, quando não equivocadas – o processo de ensino e aprendizagem é abortado e se torna um evento em si.

E da mesma forma que nos contos de fadas e novelas, para que a história tenha um final feliz é preciso avaliar o curso e não a performance na vida real.

O grande barato da avaliação consiste em saber se o treinando curtiu o curso e se ele “acha que o conteúdo é aplicável. Procurar a verdade através de pesquisas sistemáticas e monitoramento da performance está fora de cogitação.

Creio que a insustentabildade e leveza dessa prática passou desapercebida (ou ao menos não incomodo o suficiente) em virtude de T&D ter surfado nas ondas da indústria dos modismos que prometiam a solução final e definitiva.

Sem tempo para processar e aplicar a teoria na prática,  pulamos de galho em galho dos vários modismos gerenciais e organizacionais sem provas que as melhorias organizacionais foram impulsionadas pelo treinamento.

Agora, sob fogo cerrado para justificar e cortar custos, chegou à hora da onça beber água.

Primeiro, há uma consciência crescente que o problema hoje é mais quanto a aplicar o conhecimento e muito menos o de buscar um novo saber.
Segundo, os modismos gerenciais e organizacionais fizeram mais barulho que efeitos práticos palpáveis.

Terceiro, a ditadura dos custos vivida diuturnamente pelas organizações, conspira a favor  de um treinamento orientado para resultados específicos, mensuráveis e sustentáveis.

Se minha aposta estiver certa, a boa notícia é que há tempo hábil para T&D fazer a sua reengenharia e se tornar protagonista desta revolução.

Uma má notícia seria a inércia e a crença que não há nada de novo debaixo do sol.

Em todo caso, a opção é sua.


[1] Treinamento e Desenvolvimento.

[2] Genérico no sentido de universais.

[3]O uso do método dos cinco porquês seria um bom (e simples) começo. Por que o pessoal está  desmotivado? Por que os gerentes agem dessa forma e não de outra? Por que o treinamento resolveria esse problema? Por que...?
 

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